sábado, 10 de abril de 2010


Ninguém é de ninguém


Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também".
No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.
A maioria não quer ser de ninguém, mas que quer que alguém seja seu.
Beijar na boca é bom? Claro que é!
Manter-se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim.
Mas por que reclamam depois?
Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação".
Agir como tribalista tem consequências, boas e ruins, como tudo na vida.
Não dá infelizmente para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém.Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc.
Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. Ficar, também é coisa do passado.
A palavra de ordem hoje é "namorix".
A pessoa pode ter um, dois e até três “namorix” ao mesmo tempo.
Dificilmente está apaixonada por seus “namorix”, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho.
Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada.
Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando.
Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança?
A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais.
Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas.
Desconhece a delícia de assistir um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor.
Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar.
Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão.
O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram ( pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras.
Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro" traga tanto medo e rejeição.
No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram.

Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer". Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional.
Podemos aprender amar se relacionando. Trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados.
Somos livres para optarmos.
Ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento...
É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade.
É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer.
É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.
Ser de todo mundo e não ser de ninguém, é o mesmo que não ter ninguém também...
É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão.


Mônica Montone, 24 anos, estudante de psicologia e poeta

sábado, 3 de abril de 2010




Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto,


não se alcança o coração de alguém com pressa.

Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.


Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.


Conquistar um coração de verdade dá trabalho,


requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.


É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.


Para se conquistar um coração definitivamente

tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.


Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,


que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.


...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,


vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.


Uma metade de alguém que será guiada por nós


e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.


Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.


Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?


Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.


Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.


... e é assim que se rouba um coração, fácil não?


Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,


a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!


E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...


é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.






Luís Fernando Veríssimo